Chapter 0:
Eldoria
Olá! Eu sou Eldorion, criador desse universo, deus desse mundo, arquiteto dessa história... Me chame como quiser. Estarei aqui para guiá-lo através desta jornada, explicando cada detalhe de Eldoria enquanto acompanhamos o nascimento de alguém muito especial. Nosso protagonista ainda não veio ao mundo, mas quando o fizer, sua existência mudará tudo. Espero que goste dele... e dos aliados e desafios que estão por vir.
Cinco dias depois...
Uma noite fria envolvia as ruas silenciosas da cidade. Sob a tênue luz de um poste enferrujado, um bebê recém-nascido jazia sobre uma bacia de ferro frio, abandonado à própria sorte diante de um orfanato. Ele não tinha nome, nem lar, nem sequer um olhar de despedida. Sua mãe, jovem e despreocupada, simplesmente o deixou ali e desapareceu na escuridão, sem se importar com seu destino.
Dentro do orfanato, a inspetora Lúcia estava ocupada supervisionando as crianças, os fones de ouvido abafando os sons do lado de fora. Duas horas se passaram até que ela finalmente saiu para verificar a entrada e, para seu horror, encontrou o bebê imóvel sobre a calçada gelada. Seu coração disparou.
— Como... como você ainda está vivo? — murmurou, ajoelhando-se ao lado da criança. Com mãos trêmulas, pegou o pequeno corpo frágil e sentiu a pele fria ao toque. Ele ainda tinha o cordão umbilical. Teria sido abandonado assim que nasceu?
O bebê se mexeu, soltando um gemido fraco, e Lúcia sentiu um nó apertar sua garganta. Quem seria capaz de tamanha crueldade?
— Lúcia? — A voz de Cíntia, outra funcionária do orfanato, interrompeu seus pensamentos. — O que você está segurando?
— Um bebê. Ele foi deixado aqui... provavelmente logo após o nascimento.
Cíntia arregalou os olhos, aproximando-se.
— Como alguém pode fazer isso com o próprio filho?!
Lúcia suspirou, cobrindo o bebê com seu casaco.
— Não sei, mas isso não é o único problema. Este orfanato já mal tem recursos para cuidar das crianças que temos. O governo mal nos ajuda. Como vamos criar mais uma criança?
Cíntia, porém, sorriu.
— Vamos dar um jeito. Mais uma boca para alimentar não é nada. O importante é que ele está vivo.
Lúcia hesitou, mas assentiu.
— Você tem razão... Não podemos perder a esperança.
— E ele precisa de um nome, não acha?
Lúcia olhou para o bebê. Apesar de tudo, ele estava ali, lutando para viver. Forte, resiliente.
— Que tal Rick? — sugeriu Cíntia.
Lúcia sorriu.
— Sim... Rick será seu nome.
Como se entendesse que finalmente pertencia a algum lugar, o bebê acordou e começou a chorar de fome.
Quatro anos depois…
Muita coisa mudou desde aquela noite. O antigo prefeito corrupto foi substituído, e com ele vieram melhorias para o orfanato. O prédio recebeu reformas, e o número de crianças aumentou. Entre elas, um menino de cabelos brancos e olhos âmbar se destacava: Rick.
Desde pequeno, Rick mostrava um traço peculiar. Ele adorava desafios. Aprendeu a andar mais cedo do que o esperado e, aos dois anos e meio, já falava frases completas. Ele não aceitava limites — cada obstáculo se tornava um jogo, um teste para sua resistência.
Se havia uma parede no caminho, ele tentava escalá-la. Se caía, levantava e tentava de novo. Seu espírito competitivo não vinha da arrogância, mas da necessidade de provar, para si mesmo e para o mundo, que ele era mais forte do que seu destino sugeria.
E essa sede por desafios seria apenas o começo de algo muito maior.
O orfanato, apesar de ser um lugar melhor do que antes, nunca foi exatamente um lar para Rick. Desde pequeno, ele sentia que algo nele era diferente. Não sabia explicar o quê, mas era algo que fazia os outros olharem para ele com estranheza.
No começo, ele achava que era por causa de sua aparência. Seus cabelos brancos brilhavam sob a luz do sol, e seus olhos âmbar pareciam incandescentes quando refletiam a luz noturna. Mas logo percebeu que não era apenas isso.
Era a sua força.
A primeira vez que assustou alguém foi em uma brincadeira comum de pega-pega. Ele estava correndo, rindo, como qualquer outra criança, até que decidiu tocar um dos meninos com mais força para garantir que ele não escapasse. O garoto foi lançado ao chão com violência, rolando por quase dois metros na grama seca. O impacto fez um barulho oco, e um silêncio desconfortável tomou conta das outras crianças.
O menino ficou imóvel por alguns segundos, então começou a chorar. As outras crianças se afastaram de Rick imediatamente.
— O que foi isso?! — Uma das meninas murmurou, assustada. — Como ele empurrou tão forte assim?
Rick não entendeu o problema. Ele não queria machucar ninguém. Mas ninguém parecia acreditar nisso.
— Ele é estranho... — Outra criança sussurrou.
Naquela noite, pela primeira vez, Rick se perguntou se havia algo errado com ele.
Os incidentes continuaram. Aos seis anos, ele se pegou testando sua força sem querer. Em uma noite, frustrado por perder um jogo contra algumas crianças mais velhas, ele socou a parede do dormitório. O barulho foi alto. Alto demais. Quando olhou para sua mão, a parede estava rachada.
Ele arregalou os olhos. Sentiu o coração bater forte.
— O que eu fiz...? — sussurrou para si mesmo.
No dia seguinte, os cuidadores notaram o estrago e perguntaram quem era o responsável. Ninguém sabia. Mas algumas crianças olharam para Rick com suspeita.
Depois disso, ele começou a ouvir sussurros. "Foi ele?", "Ele é forte demais...", "E se ele machucar alguém de verdade?"
Rick queria provar que não era perigoso, mas toda vez que tentava ser gentil, os outros recuavam. Ele não entendia. Ele só queria brincar como os outros. Só queria ser como os outros.
Mas ele nunca seria.
As coisas pioraram aos oito anos. Naquele dia, algumas crianças decidiram testar Rick. Ele já ouvia os sussurros há anos. Sabia que o chamavam de "monstro" pelas costas. Mas, naquele dia, os garotos mais velhos decidiram provocá-lo.
— Você acha que é melhor que todo mundo, não é? — Um deles desafiou.
— Não, eu só... — Rick tentou argumentar, mas foi empurrado.
Ele sentiu o peito arder de raiva. Era injusto. Ele não fazia nada para machucar ninguém. Mas eles sempre o tratavam assim.
— Por que vocês me odeiam?! — Ele gritou, sem perceber que seu corpo tremia.
Os garotos riram. Um deles empurrou Rick novamente, mas dessa vez, ele revidou.
Antes que percebesse, sua mão se moveu sozinha, e um dos garotos foi jogado contra uma pilha de caixotes de madeira. O impacto foi forte. Ele gemeu de dor.
Silêncio absoluto.
Os outros garotos deram alguns passos para trás, e Rick sentiu o estômago revirar. Seu coração batia rápido, sua respiração estava pesada. O garoto ferido se levantou lentamente, cambaleando, e o olhou com puro terror.
— Ele é mesmo um monstro... — sussurrou, antes de sair correndo.
Os outros o seguiram. Rick ficou parado no meio do pátio, sentindo o peso do medo nos olhos de todos.
Dessa vez, não era só insegurança. Era real. Ele realmente era um monstro para eles.
Os cuidadores ouviram sobre o incidente e começaram a conversar sobre ele em segredo. Mas Rick os ouvia. Sempre ouvia.
— Ele é perigoso... e se um dia perder o controle de verdade? — Um deles murmurou.
— Devíamos enviá-lo para outro lugar...
— Não. — A voz de Lúcia interrompeu a conversa. — Ele ainda é uma criança.
— Mas, Lúcia...
— Ele não escolheu ser assim. E, até agora, nunca feriu ninguém de propósito. Se nós desistirmos dele agora... quem mais o aceitará?
Os outros não responderam. Rick, escondido no corredor, sentiu algo quente escorrer pelo rosto.
Ele levou a mão ao próprio rosto e percebeu que estava chorando. Mas ele não sabia por quê.
Naquela noite, enquanto deitava na cama, encarou o teto e se fez uma promessa:
Se eles o viam como um monstro, então ele se tornaria um monstro. Mas não um que ferisse os fracos.
Ele seria o monstro que derrotaria qualquer um que ousasse julgá-lo sem conhecê-lo.
Ele provaria que era forte o bastante para não precisar da aceitação de ninguém.
Eldorion: E assim, este pequeno garoto, rejeitado e solitário, escolheu seu destino. Não correria mais atrás de ninguém, mas se tornaria tão grandioso que o universo não poderia ignorá-lo. Ele queria ser visto. Ele queria ser lembrado. E, em breve, Eldoria inteira ouviria seu nome.
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