A sala 2-B estava tomada por vozes ansiosas, risadas e passos apressados. Era o primeiro dia do novo ano letivo, e o calor da primavera começava a se insinuar pelas janelas abertas. As flores de cerejeira dançavam no ar, como se cada pétala carregasse um segredo antigo.
Aoi Minami entrou em silêncio. Seus passos eram leves, como se ele quisesse passar despercebido. Seus olhos evitavam o contato com os outros, fixos apenas no chão. O uniforme estava impecável, mas sua expressão era vazia — como alguém que carregava algo pesado demais para a idade que tinha.
Ele escolheu a carteira no fundo da sala, perto da janela. Aquela era sua zona de conforto. Ali, ele poderia observar o mundo sem ser notado por ele.
Foi então que ela entrou.
Hana Fujisawa.
Ela tinha o tipo de presença que não precisava gritar para ser notada. Seu cabelo negro caía suavemente sobre os ombros, e seus olhos — grandes, vivos, e estranhamente tristes — varreram a sala até encontrarem o único lugar vago ao lado de Aoi.
— Posso sentar aqui? — ela perguntou, sorrindo gentilmente.
Aoi hesitou. Quis dizer "não", mas sua voz falhou. Apenas assentiu com a cabeça, voltando o olhar para a janela.
— Sou Hana Fujisawa. Transferida daqui por causa do trabalho do meu pai. — Ela falava com naturalidade, mas havia uma pausa sutil em suas palavras. Como se escolher cada sílaba fosse um esforço.
Aoi não respondeu.
Hana olhou para ele por alguns segundos, depois soltou um suspiro leve. Não insistiu. Apenas tirou da mochila um caderno florido e começou a desenhar algo, rabiscando em silêncio.
O professor entrou pouco depois, dando início às apresentações e à distribuição de tarefas. Hana se apresentou com um brilho nos olhos, mesmo que escondesse algo. Aoi apenas disse seu nome e mais nada. Não sorriu, não olhou para ninguém.
Durante o intervalo, os colegas começaram a se aglomerar em grupos. Hana foi convidada por algumas garotas para lanchar, mas recusou educadamente. Ficou sentada, observando Aoi de tempos em tempos.
— Por que você não fala com ninguém? — ela perguntou, sem tirar os olhos do desenho que fazia.
Aoi demorou a responder.
— Às vezes... as palavras só atrapalham.
Hana parou de desenhar. Levantou o olhar e sorriu, mas seus olhos brilharam por um momento. Aquela frase a atingiu mais do que ela deixava transparecer.
— Então... talvez eu também esteja atrapalhando agora?
Ele olhou para ela pela primeira vez. Por breves segundos, seus olhos se encontraram. Havia ali algo familiar. Um silêncio que os dois reconheciam — como se já tivessem se perdido no mesmo lugar, em tempos diferentes.
— Não — disse ele, baixo. — Ficar aí... não atrapalha.
Naquele momento, uma pétala entrou pela janela e pousou no caderno de Hana.
Ela olhou, sorriu de leve, e escreveu discretamente no canto da página:
> "Primeiro dia. Um silêncio compartilhado."
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