A lua cheia iluminava o vilarejo silencioso. O vento cortava as árvores, assobiando como se pressentisse a tragédia que estava por vir. Haruto estava de costas, ajoelhado no campo, cuidando de pequenas flores azuis que havia plantado. O cheiro de terra úmida o acalmava.— Amanhã, a mamãe vai sorrir quando vir que elas cresceram... — murmurou, com um brilho de esperança nos olhos. Atrás dele, Kaoru o observava. Seus punhos tremiam, o olhar oscilava entre lágrimas e ódio. Na mão direita, ele segurava uma lâmina curta, herdada do pai. A lâmina refletia a lua, como se denunciasse a intenção.— Haruto... — sua voz saiu embargada, quase um sussurro. O irmão mais velho virou-se, sorridente.— Ruru! Você veio... Vem cá! Senta aqui. Mas Kaoru não se aproximou. Ficou parado, imóvel, os olhos brilhando com dor e rancor.— Sempre você, Haruto... Sempre você. O orgulho da vila. O especial. Haruto franziu o cenho, confuso.— Do que você está falando? Kaoru, você também é amado... Mamãe te ama, eu te amo—— Cale-se! — gritou Kaoru, a voz ecoando na noite. As lágrimas escorriam, mas seu ódio já tinha tomado forma. — Você nunca entendeu. Eu sempre fui apenas a sombra! Num impulso desesperado, Kaoru avançou. Haruto abriu os olhos em choque quando a lâmina atravessou seu peito. O ar lhe faltou, o sangue escorreu quente entre seus dedos trêmulos.— K... Kaoru... por quê...? — sussurrou, tossindo sangue. Kaoru o segurou, como se ao mesmo tempo quisesse matá-lo e impedi-lo de partir. Seu rosto estava distorcido, metade ódio, metade arrependimento.— Porque eu não suporto ser menos que você... Haruto caiu de joelhos, os olhos prateados ainda fixos no irmão, não com rancor, mas com dor e tristeza.— Mesmo agora... você ainda é meu irmão... Essas foram suas últimas palavras antes que seu corpo desabasse sobre a terra. Kaoru ficou parado, ofegante, com as mãos cobertas de sangue. O silêncio o envolveu, pesado, sufocante. Ele olhou para o céu estrelado, e um riso nervoso escapou de sua boca, logo transformado em soluço.— O que... o que eu fiz? Tomado pela culpa insuportável, Kaoru levantou a lâmina ainda manchada e a cravou contra o próprio peito, caindo ao lado de Haruto. Naquela noite, o campo ficou marcado por dois corpos e um destino quebrado. Um seguiria o caminho da luz, mesmo com asas manchadas. O outro, devorado pelas trevas, seria moldado em pecado.
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