O que veio/O que está por vir

-O que me diz? Vamos?

Os dois se encaravam, sem expressão. Era como se o tempo estivesse parado na beira daquele lago. Enquanto um estendia sua mão, o outro continuava estático, apenas com o movimento de seu casaco de terno tremulando no vento como uma bandeira preta.

-Anda, o que está esperando? Não quer ir pra lá?

A figura majestosa mais parecia um deus. Era um momento digno de um vitral de igreja. Uma composição que indicava a possível mudança dos cursos do destino, de agora em diante. O outro decide se manifestar:

-Para aonde iremos agora? Estamos sem rumo, não?

Uma pausa brusca é interrompida por uma bufada.

-Ora, pro futuro, imbecil.

Confuso, ele decide dar de ombros e se entregar a tentação. Ao oferecer sua mão esquerda, os dois firmam um aperto melancólico. Os sentimentos de tempos atrás se conflitam entre si.

-Obrigado por tudo.

-Digo o mesmo.

Com sua mão direita, o homem tira uma arma silenciada de seu bolso, e a aponta em direção à outra pessoa.

Um quieto tiro é disparado, seguido de um estrondo. Ninguém se encontrava presente na volta do lago.

Ninguém sequer ouviu.