O vento cortava as montanhas de Refúgio Alto, carregando flocos de neve e o cheiro acre de podridão. Joseph Fox agachava-se atrás de um trator enferrujado, o fuzil M4
— comprado por 60 pontos em Porto Claro, com um silenciador improvisado — firme no ombro.
Seus olhos, endurecidos por anos de serviço militar e dois anos de apocalipse, rastreavam a estrada gelada. Quatro sombras arrastavam-se na penumbra: dois zumbis lentos,
cambaleando como fantoches quebrados; um rápido, com movimentos erráticos; e um vermelho, olhos brilhando como brasas, mais perigoso, capaz de infectar com uma mordida.
Joseph sabia que o frasco dentro daquele vermelho podia significar imunidade
— ou, se ele errasse, a morte.
A fome roía seu estômago, um vazio que fazia seus dedos tremerem no gatilho. O cansaço pesava suas pálpebras; ele não dormia há dois dias, desde que um zumbi urro atraiu uma horda e os forçou a abandonar um esconderijo temporário.
Seu relógio de pontos, um dispositivo de pulso rachado, marcava 40 pontos
— o suficiente para uma lata de sopa em Porto Claro, mas não para a vacina que ele sonhava em obter.
O mapa no relógio mostrava um núcleo próximo, seu ar vermelho tóxico manchando o horizonte. Destruí-lo seria prioridade, mas não agora.
"Fique quieto, garoto", sussurrou, sem desviar o olhar. Ao seu lado, Marcelo Brooks, um adolescente de 17 anos com o rosto sujo de terra, segurava uma faca de cozinha e um revólver .38, ambos tirados de um carro capotado dias antes.
O revólver não tinha silenciador, e um tiro poderia atrair todos os zumbis da região
— lentos, rápidos, talvez até um blindado, daqueles que só caíam com explosivos. Marcelo tremia, não só pelo frio, mas pela fome que o fazia apertar a barriga.
Seu relógio marcava 20 pontos, e uma notícia piscava: Porto Claro abre hostel por 10 pontos/noite. Um luxo que eles não podiam pagar.
"Joseph, aquele vermelho... ele tá vindo pra cá", murmurou Marcelo, a voz baixa, mas com um fio de pânico.
"Se a gente pegar o frasco, dá pra fazer a vacina, né?""Calma", respondeu Joseph, os olhos fixos no zumbi vermelho.
"Um movimento errado, e estamos mortos. Barulho chama mais deles." Ele ajustou o silenciador, sentindo o peso do fuzil. Sua experiência como sargento dizia para esperar, mas o instinto gritava para agir.
Cada frasco de zumbi vermelho era um passo para a imunidade — ou, com sorte, para as vacinas raras que podiam duplicar força, velocidade, até inteligência.
Mas errar contra um vermelho significava infecção, e ele já vira homens melhores que ele sucumbirem.
O zumbi vermelho parou, farejando o ar, a cabeça inclinada como um predador.
Os lentos gemiam, arrastando os pés, enquanto o rápido corria em círculos, como se pressentisse algo.
Joseph segurou a respiração, calculando. Um tiro com silenciador no vermelho, depois facadas nos outros.
Risco alto, mas o frasco valia. Ele ergueu o fuzil, o dedo no gatilho, quando um novo som cortou o silêncio: o ronco de um motor.
Um jipe, vindo da estrada oposta, faróis cortando a neve.
O barulho era um ímã para zumbis. Já dava para ouvir gemidos distantes
— mais sombras despertando."Merda", murmurou Joseph, abaixando o fuzil. "Marcelo, pro chão. Agora."
O garoto obedeceu, jogando-se na neve, a faca ainda na mão.
O jipe parou a uns 50 metros, e duas figuras desceram: uma mulher com um machado e um homem com uma espingarda sem silenciador.
Joseph apertou o relógio, verificando o mapa. Não eram de Porto Claro
— a cidade verde mais próxima, onde militares mantinham hotéis e lojas seguras.
Podiam ser mercadores, carregando pontos e suprimentos, ou bandidos ligados a James Ward, o líder rival que aterrorizava Refúgio Alto.
De qualquer forma, o barulho do motor já atraía o zumbi vermelho, que correu na direção do jipe, seguido pelos outros.
"Joseph, a gente pega o frasco agora ou ajuda eles?", sussurrou Marcelo, os olhos arregalados.
"Se eles morrerem, dá pra saquear o jipe. Comida, talvez pontos..."Joseph cerrou os dentes.
A lei que ele queria impor na base que planejava montar — nada de matar ou roubar — ecoava em sua mente.
Mas deixar os estranhos morrerem não era exatamente matar, era? Ele olhou para Marcelo, o garoto que confiava nele como um pai, e sentiu o peso da escolha.
Ajudar significava arriscar a vida e alertar mais zumbis. Ignorar dava uma chance de pegar o frasco e saquear o jipe, mas a custo de sua própria humanidade.
"Arma pronta, mas sem tiro", decidiu, levantando-se lentamente. "Vamos atrás do vermelho, pegamos o frasco e vemos quem são eles. Silêncio absoluto.
Marcelo assentiu, segurando a faca com força. Joseph avançou, o fuzil baixo, cada passo calculado para evitar galhos ou neve solta. O zumbi vermelho já estava a 20 metros do jipe, e os estranhos, alheios, discutiam algo em voz alta — um erro fatal.
Joseph mirou, o silenciador alinhado. Um tiro limpo na cabeça do vermelho, e o frasco seria deles. Mas, enquanto ele ajustava a mira, um novo gemido ecoou, grave e gutural.
Um zumbi blindado, coberto de cicatrizes e ossos expostos, emergiu da floresta, atraído pelo motor. E, atrás dele, uma horda de lentos.
Joseph congelou.
O frasco, o jipe, os estranhos — tudo estava em jogo. E o barulho só ia piorar.
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