Chapter 0:

Projeto Perdido

LOT OF LONELINESS


📖 Prólogo — O Projeto Perdido

Yokosuka, Japão — 23:41

O céu daquela noite estava encoberto, sem lua, sem estrelas. Apenas o som distante do mar batendo contra as rochas podia ser ouvido.

No alto de uma colina, cercada por grades de ferro e torres de vigilância apagadas, um prédio de concreto jazia em silêncio. Há poucos minutos, aquele lugar pulsava de atividade.  Agora estava morto.

O portão principal foi arrombado. O cheiro de pólvora impregnava o ar. As luzes de emergência piscavam, tingindo os corredores de vermelho.

Passos ecoaram.

Uma figura envolta em um casaco pesado caminhava lentamente pelo corredor destruído, arrastando uma respiração cansada. Em suas mãos, um caderno manchado de sangue.

O capuz escondia seu rosto, mas o andar firme deixava claro: ele havia cumprido o que veio fazer.

Dentro da instalação, os corpos jaziam espalhados.
Um homem de jaleco branco caído sobre a mesa, o sangue escorrendo até pingar no chão.
Uma jovem cientista caiu de bruços, a mão ainda agarrada a uma prancheta, como se tentasse proteger seu trabalho.
Mais adiante, uma segurança armada, os olhos arregalados em choque, a arma caiu a poucos centímetros.
E, no centro da sala, um garoto não mais velho que dezoito anos, o peito imóvel, cercado por papéis encarcados de vermelho.

Cinco mortos.
Cinco silêncios.

As telas ainda piscavam, exibindo códigos inacabados, gráficos interrompidos, dados que jamais veriam a luz do dia. Entre as rachaduras do monitor central, uma palavra permanente gravada como uma cicatriz digital:

PROJETO MIRROR.

A figura parou diante de uma porta metálica retorcida pela explosão. Do lado de fora, o vento da madrugada trazia o cheiro de maresia misturado ao da fumaça.

Ele abriu o caderno. Os dedos correram pelo teclado com precisão. Linhas de comando são organizadas em sequência, acessando servidores ocultos, túneis criptografados, redes fantasmas.

Um arquivo começou a ser transferido. Linhas de código avançadas, bibliotecas inteiras, protocolos experimentais. Um programa que não deveria existir.

O progresso da barra subia lentamente, iluminando o rosto oculto pelo capuz. Quando a transferência chegou ao fim, a tela emitiu um bip suave.

Transferência concluída.

A figura fechou os olhos por um instante, como se estivesse rezando.

— Está feito — murmurou em voz grave.

Fechou o caderno, suspirando fundo. Por alguns segundos, pergunto parado, apenas ouvindo o silêncio da noite.

Então, virou-se e desapareceu na escuridão da estrada deserta, levando consigo os artesãos.

Dentro do laboratório, as sirenes de emergência cessaram de repente. A luz vermelha parou de piscar. E o silêncio absoluto voltou a reinar.

Mas no canto da sala, uma tela secundária acendeu sozinha. Linhas de código surgiram, repetindo-se como um eco:

> EXECUÇÃO DE SEQUÊNCIA DE BACKUP> INICIALIZANDO...> CÓPIAS ESPELHADAS IMPLEMENTADAS

A câmera imaginária percorreu os corpos uma última vez. As expressões congeladas de medo, surpresa, desespero.

E no quadro eletrônico quebrado, as letras que ainda brilhavam em azul claro:

PROJETO MIRROR.

A tela apagou.