O jeito que te amei

Dois anos haviam se passado desde que Haryu descera à Terra. As asas negras, antes temidas, agora eram visitas como sinal de proteção entre os moradores do vilarejo. O andarilho de olhar prateado havia se tornado parte da rotina daquelas pessoas, ajudando a curar, aconselhar e aliviar os corações pesados que encontrava. Foi numa tarde de primavera, quando as cerejeiras tingiam o chão de pétalas rosadas, que Haryu a conheceu. Yumi caminhava pela rua principal com passos leves, carregando um cesto de ervas medicinais. O kimono simples, em tons claros, trazia a delicadeza do campo: o coque que prendia seus cabelos castanhos deixava escapar algumas mechas soltas que balançavam com o vento.— Você sempre ajuda as pessoas... mas quem ajuda você? — perguntou Yumi em um sussurro, depois de observá-lo confortar uma criança que havia perdido o pai. Haryu se virou, surpreso pela sinceridade daquela voz. Seus olhos encontraram os dela, escuros como a noite, e por um instante ele se esqueceu de respirar. Nos dias seguintes, Yumi se aproximou pouco a pouco. Primeiro, trazendo chá quente nas noites frias; depois, acompanhando-o nas caminhadas pelos campos; e logo as conversas simples viraram longos diálogos sobre sonhos, medos e esperanças. Aos poucos, o anjo que vivera pela dor do passado começou a conhecer outra forma de salvação — não mais apenas dada pelo Divino, mas por algo humano e puro: o amor.