Chapter 3:

Deja vu

Shigan No Tsumi


   Das sombras, o homem de cabelos brancos e joias cintilantes deu um passo à frente. Seu sorriso era largo, quase insano, e seus olhos violetas brilhavam como se enxergassem direto no coração de Haryu.— Ah, quanto tempo eu esperei por isso... murmurou, com a voz que carregava um misto de diversão e veneno. Haryu sentiu o peito apertar. Seu olhar prateado endureceu, mas ao mesmo tempo, um tremor quase imperceptível percorreu sua mão Ele o conhecia. Não havia como negar.— Você... — sussurrou entre os dentes, a raiva contida ecoando mais que o próprio vento da noite. O sorriso de Vaidade se alargou ainda mais, como se aquele reconhecimento fosse um banquete. Ele se curvou teatralmente, os brincos roxos tilintando com o movimento.— Não me olhe assim. Eu só vim ver como anda o anjinho obediente. Tão sério, tão comprometido em ajudar esses humanos patéticos... — Disse, estalando a língua com desdém. — É quase... divertido. Haryu respirou fundo, reprimindo as lembranças que tentavam invadir sua mente. Aquele rosto... aquelas palavras...— Volte para as trevas de onde saiu, Karei. Ou eu mesmo o farei. Vaidade riu alto, inclinando a cabeça para o lado como uma criança diante de um novo brinquedo.—Isso vai ser divertido. Até breve, anjinho. Vaidade riu e em seguida se teleportou para longe, deixando apenas o um rastro de luz violeta para trás. As asas negras do anjo se abriram ainda mais, e naquele instante, ficou claro que aquele encontro era apenas o início de algo muito maior.Capítulo 4 A primavera chegara mais uma vez ao vilarejo. O vento suave fazia dançar as pétalas de cerejeira, que caíam como neve cor-de-rosa sobre o caminho de terra. Haryu caminhava ao lado de Yumi, em silêncio, como de costume. Mas não era um silêncio frio; era um silêncio confortável, cheio de significados que não precisavam ser ditos. Yumi, com seu kimono rosa claro, carregava um pequeno embrulho nas mãos. Seus cabelos castanhos estavam presos em um coque simples, e algumas mechas soltas balançavam com o vento.— Haryu... — começou, com a voz tímida, apertando o embrulho contra o peito. — Você sempre está ajudando todos. A senhora da rua de baixo, as crianças que perdem os pais, até os viajantes que passam por aqui.. Mas... quem cuida de você? Haryu parou de andar. Virou o rosto devagar, fitando aqueles olhos escuros que refletiam uma sinceridade tão rara.— Eu... não preciso. — respondeu, num tom calmo, mas sua voz tremeu quase imperceptivelmente. — Eu existo para ajudar. Essa é a minha missão. Haryu continuava olhando a garota, com uma expressão gentil em seu rosto. De repente, esticou seu braço e pegou na mão delicada de Yumi.— Você sempre me perguntou isso... tem algum motivo? — Perguntou, com um sorriso.— Eu quero ser a pessoa que cuida de você. — Disse, num tom gentil e carinhoso. Haryu sentiu seu rosto esquentar e o coração disparar. Yumi deu um passo à frente, determinada, e ergueu o embrulho. — Então aceite isto. Ele olhou, curioso, e abriu com cuidado. Dentro havia um omusubi, arroz moldado em triângulo, envolto em folha de nori.— Eu fiz. — disse ela, com um sorriso tímido. — Pode não estar perfeito... mas eu tentei. Haryu encarou o alimento como se fosse um tesouro. Seus olhos prateados brilharam por um instante, e ele pegou o omusubi com delicadeza, como se temesse quebrá-lo. Deu uma pequena mordida. Yumi o observava ansiosa.— E então...?— Está maravilhoso. Yumi riu baixinho, cobrindo a boca com a mão.— Você está mentindo para me agradar, não é?— Eu não minto. — respondeu ele, olhando diretamente para ela. — Este é o melhor sabor que já provei. Um silêncio doce pairou entre eles. As pétalas caíam, e Yumi desviou o olhar, corando.— Sabe... às vezes eu esqueço que você não é como os outros homens daqui.— Realmente. — admitiu Haryu, baixando o olhar. — Mas quando estou ao seu lado... consigo esquecer disso. O coração de Yumi disparou. Ela riu nervosa, tentando quebrar o clima.— Então... quer dizer que um anjo pode gostar de coisas simples? Haryu se aproximou um pouco mais, deixando as asas negras se abrirem levemente atrás dele.— Um anjo pode até aprender a amar. As palavras pairaram no ar. Yumi corou ainda mais, mas não desviou o olhar. Apenas sorriu, tímida e feliz. E naquela noite, entre pétalas e risos suaves, Haryu descobriu que sua missão na Terra talvez fosse maior do que apenas derrotar os Pecados. Talvez fosse aprender o valor do amor humano.