Chapter 2:

Uma batalha de vida ou morte.

Entre Luzes e Máscaras Quebradas


 —querido diário, hoje na estrada tortuosa, ajudei um casal de velhinhos a tirar a carroça da lama. A netinha deles ficou me chamando de ‘irmaozão’, hahaha... No fim, me deram um pedaço de carne seca como agradecimento. Sorte, porque só tenho batatas há dias.
Sentado perto da fogueira, o garoto olhou pro céu estrelado, sorrindo sozinho.— Realmente... até nos caminhos mais difíceis, há beleza.
—Tsssss...Um cheiro forte subiu no ar. Virou bruscamente.— ...Ahn? — arregalou os olhos. — N-não, não, não... A MINHA CARNE!
Correu até a fogueira, E removeu a carne com pressa.— A-AAAAH! MINHA CAAAAARNE! — ele tentou virar, assoprar, bater... nada. Tostada. Preta. Irrecuperável.
Ficou olhando para aquilo por dois segundos. Então lentamente virou a cabeça, olhando pro saco de batatas jogado no canto... que, com um vento infeliz, caiu de lado, derramando três batatinhas mirradas, que rolaram lentamente como se zombassem dele.
Seus ombros desabaram. — Eu só queria... só queria proteína... Ahhh que saco!–
Após uma noite longa, os primeiros raios dourados da manhã atravessaram o vitral do quarto de Lysielle Ravencout, projetando feixes de luz sobre o chão de mármore polido.
O som discreto de passos ecoou no corredor, seguido de três toques leves na porta.
— jovem senhorita...— chamou, com voz respeitosa. — O sol já se ergueu. É hora de despertar.
Lysielle despertou com um suspiro e sentou-se na cama. Sem perder tempo, um leve gesto convidou as criadas de fora do quarto a se aproximarem.
Com uma eficiência gentil, elas a ajudaram a vestir-se, prenderam seus cabelos com delicadeza e refrescaram seu rosto com um pano úmido. Auri, a pequena fada verdejante, flutuava silenciosa ao redor, observando cada movimento com olhos atentos e curiosos.
Em poucos minutos, Lysielle estava pronta. Ela agradeceu com um sorriso discreto, ainda sentindo o peso do silêncio que se abatera sobre a mansão desde a cerimônia.
— Tenho que ir à arena. — disse ela, decidida, enquanto as criadas abriam a porta para que pudesse sair.
— Como desejar, senhorita. — respondeu uma delas, com uma reverência breve.
Mesmo após tudo ainda sentia o peso do dia anterior em seus ombros, mas recusava-se a permitir que aquilo a quebrasse. Caminhava pelos corredores de pedra com passos calmos, determinada a clarear a mente e esticar o corpo. Durante a caminhada, suas orelhas captaram vozes suaves — duas empregadas conversavam nos fundos de um corredor, sem perceber sua aproximação.
— Dizem que o jovem mestre Caine invocou um lobo do espaço-tempo... lendário!— E a senhorita Velkatrice? A invocação dela era ainda mais absurda... uma entidade que distorce realidades, algo chamado “Narrativa Cósmica”, acredita?
Lysielle parou por um breve instante, ouvindo em silêncio. O tom admirado daquelas palavras não lhe causava inveja — apenas confirmava o que já sabia. Seus irmãos haviam se tornado os centros das atenções. Ela, por outro lado, era a peça rejeitada do tabuleiro. Ainda assim, manteve-se serena. Respirou fundo, endireitou os ombros e continuou sua caminhada até a arena de treinamento. Não importava o que haviam dito ou feito — ela ainda era Lysielle Ravencourt.

O salão de treinamento da família Ravencourt era amplo, imponente, com vitrais escuros que filtravam a luz do entardecer em tons rubros. O chão negro de ônix refletia vagamente as figuras que ali se aproximavam.
Lysielle caminhava com firmeza, trajando um uniforme de treino simples. Os cabelos brancos presos em um laço baixo deslizavam por suas costas. Seus olhos dourados, herdados de uma linhagem antiga e temida, estavam calmos, ainda que profundos.
Auri, seu espírito invocado, flutuava ao lado dela, olhando encantado para as armas expostas nas paredes — espadas mágicas, lanças de guerra, relíquias de glória.
Mas a paz não durou.
— Você... ainda tem a coragem de aparecer aqui? Uma vergonha pra família Ravencourt. — disse, com aquela voz firme, controlada, quase mecânica.
Caine, o segundo filho da família, surgia à sua esquerda. Seus cabelos brancos estavam amarrados num rabo de cavalo, e os olhos dourados brilhavam com arrogância e desprezo.
— Achei que depois da sua invocação ridícula, você teria se exilado por vergonha — provocou ele, caminhando lentamente em sua direção.
— Não seja injusto, Caine — sussurrou uma voz suave e dissonante. — A irmã mais velha é minha presa... Sou a única que pode estraçalhá-la.
Vellatrice se apoiando no ombro do irmão, os olhos cheios de escárnio. — “É... parece que lixo não sabe quando se recolher, não é, maninha?" — cuspiu as palavras, como se cada sílaba fosse venenosa.
Lysielle nem sequer virou o rosto. — “Tsc...” — soltou, ajeitando a luva como se eles nem estivessem ali. Mas bastou sentir a mão de Caine agarrar seu pulso com força, tentando impor presença, que ela arqueou uma sobrancelha, girou o corpo num movimento suave e o lançou no chão de costas, fazendo um estrondo ecoar pelas paredes.
Sem sequer olhar pra ele no chão, Lysielle soltou o punho da roupa, ajeitando a manga como quem tira a poeira. — “Então... vai ser mais uma daquelas tentativas patéticas de me matar, não é?” — perguntou, seca, a voz carregada de tédio — e um sorriso debochado no canto dos lábios.
Caine se levantou lentamente, e não estava escondendo sua aversão a Lysielle, os dois haviam vindo atrás dela, e a mesma já sabia o porquê.
Lysielle tomou uma distância segura. — Auri... retorne. — com um leve brilho, a fada se desvaneceu em particulas de luz, desaparecendo suavemente.
Enquanto se preparava para o que estava por vir, um pensamento cruzou sua mente. “— Não posso envolver o Auri nisso, ele não é uma invocação de combate e pode se ferir... —”
Num piscar de olhos, Caine avançou de frente contra ela. Um círculo de mana brilhou atrás de Lysielle e o Lobo do Espaço-Tempo surgiu em meio a distorções. A criatura saltou direto as suas costas.
Ela não se virou. Pois já estava completamente segura e confiante se suas habilidades.
A palma da mão dela interceptou o ataque fronta de Caine enquanto seu corpo girava, fria e precisa, para escapar das presas do lobo do espaço-tempo.

Ela se abaixou sem perder o ritmo e desferiu um chute brutal no lobo. Um estalo seco ecoou pela arena. O lobo voou para o lado e desapareceu no ar momentaneamente. Em seguida, Lysielle girou com força e desferiu um soco certeiro no estômago de Caine.
O impacto foi poderoso.
O corpo do garoto voou como um boneco de trapo até colidir com a parede oposta, rachando os azulejos escuros e fazendo o chão vibrar.
Vellatrice bateu palmas lentamente.
— Perfeito. Agora é minha vez.
A lâmina curvada de sua espada surgiu do manto. Ela avançou com uma velocidade cortante, quase inumana, o sorriso cada vez mais alucinado.
Lysielle não recuou. Não sacou arma. Não ergueu defesa.
—Por que não pega sua arma mágica?... minha doce irmãzinha... está achando que pode me vencer sem ela? — vellatrice continuou atacando com sua espada enquanto ria e sorria.
— Armas... são para usar contra perigos de vida, quando se pretende matar de verdade — murmurou.
Vellatrice desferiu uma sequência de estocadas com sua espada. Lysielle desviava de todas com passos sutis, o corpo fluindo entre os ataques como um rio entre pedras.
Caine se ergueu com dificuldade, ofegante, o orgulho ferido queimando mais que o golpe. — Vellatrice, acaba com isso!
— Estou tentando, querido irmão — sussurrou ela, rindo.
Ele invocou novamente. O Lobo do Espaço-Tempo surgiu ao lado da irmã mais nova, e juntos lançaram um assalto coordenado sobre Lysielle.
Mas nada mudava.
Ela não apenas desviava — ela parecia estar brincando. Era como se previsse cada movimento, como se já tivesse vencido antes mesmo do início.
Caine rosnou, cerrando os punhos, e seu grito reverberou no campo. — Chega! Invocação completa!
O lobo do espaço-tempo surgiu ao seu lado, distorcendo o ar. Num instante, seu corpo se fragmentou em incontáveis partículas de luz dourada, que giraram violentamente antes de colapsarem sobre Caine.
Lysielle, pela primeira vez, arregalou os olhos. Instintivamente recuou, levantando a guarda e abrindo distância de Vellatrice, que seguia pressionando-a. Ela sabia exatamente o que aquilo significava — uma Fusão Arcana. Algo tão raro que nem mesmo invocadores de alto nível sonham em realizar. Um feito reservado a gênios entre gênios. E, naquele momento, ficou claro: seu irmão era um deles.
Era visível, enquanto os fragmentos de luz sumiam, o corpo de Caine era revestido por uma armadura dourada de mana. Aquele poder seria capaz de enfrentar alguém no nível 5 como Lysielle, más...
Lysielle franziu a testa. “Perigoso... mas lento.”
Antes que a armadura se completasse, ela sumiu. Num instante, surgiu na frente de Caine, que arregalou os olhos — tarde demais.
Um soco brutal no abdômen dobrou seu corpo. Outro no queixo o lançou pro alto. E antes que caísse, Lysielle segurou sua perna, girou, e esmagou o rosto dele contra o chão.
A fusão se desfez no mesmo segundo, as partículas douradas se despedaçando no ar.
— “Você nunca foi uma ameaça.” — declarou, olhando com desprezo enquanto ele estava no chão, destruído.
Vellatrice ficou surpresa, mais logo um sorriso satisfeito surgiu em seu rosto.
— "Hihihi... HAHAHAHA!" — Vellatrice gargalhou, e num gesto teatral, simplesmente jogou sua espada no chão, deixando-a quicar e deslizar até parar.
Ela abriu um sorriso largo, quase infantil, enquanto lambia os próprios lábios, os olhos brilhando de puro sadismo.— “Hehehe... Tá na hora de você brincar com ela...” — sussurrou, erguendo as mãos.
O espaço atrás dela se rompeu, como se a própria realidade estivesse sendo rasgada em tiras. Fragmentos de luz e sombras giraram em espiral, criando uma fenda que parecia levar ao vazio absoluto.
— “Desça... Narrativa Cósmica...” — sua voz ecoou, reverberando como mil vozes ao mesmo tempo, os céus estavam vermelhos e o próprio ambiente a sua volta estava mais pesado e tenso..— “Bem-vinda à minha história, irmãzinha... Eu criei especialmente pra te matar!...”
Estendendo os braços, sangue fluiu de suas mãos, moldando-se no ar. Uma foice carmesim, grotesca e vibrante, tomou forma, gotejando como se estivesse viva.
Abrindo um sorriso largo, quase infantil, enquanto lambia os próprios lábios, os olhos brilhando de puro sadismo.— “Hehehe... Tá na hora de brincarmos juntas...” — sussurrou, erguendo as mãos.
Caine cambaleou, limpando o sangue da boca, os olhos carregados de ódio e humilhação.— "Maldita...!" — Rangendo os dentes, ergueu ambas as mãos. — "Invocar — Legião de Mana!"
No mesmo instante, feras translúcidas, feitas de pura mana, surgiram ao redor dele — lobos, aves, serpentes, tigres... uma horda selvagem rugindo.
E então... — "Retorne... Lobo do Espaço-Tempo!!"O ar rasgou. Um portal púrpura se abriu, e dele emergiu novamente o gigantesco lobo temporal, os olhos carregando a distorção de mil futuros e passados.
— "Venha!!" — Vellatrice exclamou e girou a foice, deixando o sangue respingar no ar como pétalas macabras. — isso fez inúmeras criaturas surgirem, deixando Lysielle totalmente cercada por invocações de ambos os lados.
As bestas de mana a cercando começaram a se mover, avançando de todas as direções.
Lysielle respirou fundo, apertando os punhos.— Essas bestas... criaturas mágicas... essa quantidade pode ser perigosa. — pensou, mantendo a calma.
Seu corpo se envolveu em chamas azuis. E, caindo como um raio sobre a horda, ela avançou. Cada golpe eliminava dezenas de invocações, que se despedaçavam em partículas de mana.
O ambiente a sua volta era seu campo de guerra, e ela usava os pilares e paredes daquele lugar para se manter na vantagem.
Porém...
Caine e Vellatrice se prepararam. Ambos estavam esperando pelo momento certo e só precisavam de um segundo certo. Assim que uma brecha surgiu... os dois dispararam como um raio. Cortaram o ar, surgindo ao lado de Lysielle, cada um de um lado.
Ela abriu os olhos, surpresa, e ergueu rapidamente as mãos, bloqueando os dois ataques.
O ataque de ambos foi pesado e ela foi atingida em cheio nas laterais de seu corpo, logo depois... o sangue de Lysielle respingou no chão.